Recém-lançado, o relatório Innovating Pedagogy 2017 traz exemplos de como a tecnologia pode contribuir para uma inovação real no ensino, colocando o aluno no centro do processo de aprendizado e estimulando novas maneiras de se assimilar e se produzir conhecimento
Inovação virou palavra comum nas escolas, na boca de educadores e entre os profissionais de Educação porque todos sabem: se a Educação não mudar, não vamos a lugar algum. Mas quais inovações fazem a diferença, de verdade, na vida das crianças e dos jovens que estamos formando para entregar como adultos a esse país que queremos construir?
Talvez agora estejam aparecendo as primeiras respostas.
A edição 2017 do documento, divulgado na semana passada, mais uma vez vai além do óbvio aos listar o que há de mais próspero e renovador acontecendo mundo afora no sentido de transformar as escolas e a experiência educacional como um todo.
A publicação tem a abordagem certa ao apontar metodologias e concepções capazes de transformar alunos em aprendizes eficientes e experientes. Ela também comprova que a inovação passa pela tecnologia, mas é de fato a inovação metodológica que faz a diferença.
Abaixo, selecionei dentre as dez inovações citadas no relatório as que mais acredito que tenham um impacto forte:
Aprendizado espaçado. Pesquisas sobre atividade cerebral e aprendizagem constataram: aprendemos muito mais e absorvemos muito mais informação sobre determinado assunto quando somos ensinados de maneira fragmentada e intervalada do que em uma única e longa sessão. Algumas demonstraram, inclusive, que alunos submetidos a 90 minutos de aprendizagem espaçada alcançam resultados acadêmicos muito similares aos que assistiram a aulas tradicionais por vários meses. A abordagem, em desenvolvimento, já vem sendo testada em várias escolas e pode ser uma alternativa às aulas expositivas.
Livros educacionais abertos. Criados no início dos anos 2000 com o intuito de reduzir os custos dos estudantes universitários, os livros de texto aberto têm se mostrado uma ferramenta poderosa de inovação educacional. Esses livros podem ser alterados, complementados, revisados e reescritos por qualquer pessoa, inclusive pelos alunos. Dessa forma, os estudantes passam a ser criadores do conhecimento e não meros expectadores que registram informações. Se feita de maneira estruturada e cuidadosa, a utilização de recursos abertos pode revolucionar a experiência escolar, diz o relatório.
Educação epistêmica. Ou, numa linguagem mais usual, educação verdadeira. Ela se faz imprescindível na era da pós-verdade, dizem os autores do estudo, e consiste em desenvolver nos estudantes a capacidade de avaliar quais informações são confiáveis e de compartilhá-las de forma responsável. Para isso, é preciso conscientizá-los de que o conhecimento é algo complexo, construído a partir de perspectivas particulares, assim como ensiná-los a buscar evidências e a questionar a validade das notícias que chegam até eles. Algumas escolas já incorporaram essas habilidades no currículo, algo que deve se tornar cada vez mais comum nos próximos dois anos, segundo o relatório.
Aprendizado com valores. Quando o aprendizado está vinculado a objetivos que os alunos valorizam, eles tomam posse de seu trabalho e colocam o esforço necessário. Fornecer aos alunos a liberdade de escolher o que e como eles querem estudar pode aumentar o senso de propriedade dos alunos sobre o processo de aprendizagem. Eles são menos propensos a sentir que participam de um processo que pertence ao professor ou ao sistema educacional. Muitas escolas utilizam a tecnologia para permitir que os alunos escolham o que estudar de acordo com seus interesses, permitindo que eles criem seus próprios caminhos de aprendizagem. Tais ambientes ajudam os alunos a desenvolver valores internos enquanto navegam de forma independente na aprendizagem.
Como demonstra este último Innovating Pedagogy 2017, a tecnologia é inovadora na Educação quando coloca o aluno no centro do processo de aprendizado, induz à colaboração e propõe novas maneiras de se assimilar conhecimento. Quando usada dentro das quatro paredes da sala de aula, sob o comando de um professor, servindo de apoio a um currículo fragmentado em várias disciplinas não conversam entre si, a tecnologia não traz inovação alguma, apenas propaga o mesmo sistema de ensino obsoleto que tem afastado os jovens da escola.
A grande conclusão, e que precisamos incorporar cada vez mais, é que para inovar não basta adotar novas tecnologias, é preciso pensar diferente e agir diferente!